terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Alimentação em flowerhorns






É sabido que flowerhorns são peixes muito "reativos" a tudo aquilo que diz respeito ao seu manejo. Entre os fatores que mais influenciam na aparência e saúde dos animais está a alimentação. Existem no mercado muitas linhas e até marcas inteiras de produtos alimentícios e/ou suplementares dedicados à melhoria aparente dos flowerhorns, como rações específicas para crescimento, aumento do kok, intensificação das pérolas, cor e marcação. Esses produtos, sem dúvida, podem fazer com que o peixe tenha uma aparência melhor e mais desejável, porém há um preço. Vários, na verdade.
Irei citar alguns deles a partir de agora:
Danos à Saúde: rações usadas para a intensificação da cor vermelha contém uma vasta gama de carotenóides, que são lipídios complexos (gordura + pigmento) e por isso, podem causar danos generalizados ao peixe, como sobre peso e deposição de gordura no fígado (hepática) o que pode reduzir consideravelmente a expectativa de vida do peixe, por vezes, a menos da metade do esperado. Em teoria não exite uma quantidade efetiva e ao mesmo tempo segura para se usar dessas rações a longo prazo, pois foi observado que, ao passo que o peixe começa a ter sua cor intensificada, a quantidade de gordura presente no organismo do animal já se mostra excessiva. Tendo em mente essa relação, a cor do peixe só se intensifica consistentemente quando a "intoxicação" pelos carotenóides ja está instalada. Produtos líquidos como alguns corantes suplementares causam o mesmo tipo de efeito.
Flowerhorns foram selecionados ao longo dos anos para apresentarem várias características desejáveis, entre elas, o kok de tamanho avantajado. Para atender à demanda do hobby, os peixes foram selecionados de forma que a maioria deles tivesse kok do tipo soft ou bubble (com grande quantidade de gordura) que, apesar de menos estáveis, e justamente por isso, reagem muito bem com rações ricas em lipídios, aumentando de tamanho. Essas rações, assim como as ricas em carotenóides, causam o desenvolvimento de tecido adiposo no fígado do animal, e leva ao desenvolvimento de sobre peso, o que encurta a vida do peixe da mesma maneira. Além de possuírem um teor elevado de sódio e outros sais que podem afetar o sistema excretor do animal ("rins"). No caso de alimentos específicos para koks do tipo hard (muscular) a grande quantidade de proteína presente na ração pode, também sobrecarregar o sistema excretor do flowerhorn.
As rações utilizadas para aumentar o destaque das pérolas do animal, geralmente ricas em substâncias de origem vegetal e minerais, tendem a não apresentar grandes riscos à saúde do animal, por vezes, apenas uma leve alterações no sistema excretor do flower e do seu equilíbrio osmótico que, na maioria dos casos, parecem ser superadas pelo peixe a curto ou, às vezes, médio prazo sem maiores problemas, porém são raras as rações disponíveis no mercado que atuam apenas sobre as pérolas do peixe, muitas delas contém, também, grande quantidade de gordura.
No caso dos sais solúveis, que não são alimentos, mas sim usados em "banhos" para aumentar o brilho das pérolas do peixe, tendem a possuírem mais substâncias agressivas ao organismo do peixe, e prejudicam o esquilíbrio osmótico do flowerhorn de forma mais severa.
Os alimentos usados para o aumento da melanina (marcação) do peixe, por motivos não muito claros, também encurtam significativamente a vida do peixe. A teoria mais aceita é que a ração contenha hormônios, ou indutores hormonais que agem sobre a mesohipófise do peixe, fazendo com que ele escureça. Alguns peixes são mais sensíveis a esse tipo de ração e podem se intoxicar ou mesmo morrer em curtos períodos de tempo, enquanto outros vivem por períodos mais longos.
As rações para crescimento geral podem ser usadas de forma mais segura, desde que perfaçam de 60% (no estágio juvenil) a 70% (no estágio de fry). Para peixes adultos, o ligeiro excesso de proteína e gordura nessas rações pode ser levemente prejudicial.
Se vocês se perguntam porque antigamente flowerhorns viviam 8 até 10 anos
E hoje raramente passam dos 4 talvez a resposta esteja logo acima. Claro que existem animais mais resistentes ao consumo desses alimentos e que vivem bastante, porém com certeza viveriam ainda mais caso fosse oferecida a eles uma dieta mais saudável.
Além do prejuízo ao próprio animal eu enxergo um prejuízo ao próprio hobby acarretado pelo uso dessas rações. O simples fato de existirem rações capazes de melhorarem a aparência do peixe, pode prejudicar o hobby de duas maneiras principais na minha opinião.
A primeira forma de prejudicar o hobby está relacionada à venda dos flowerhorns. No brasil é menos comum que os filhotes no mercado estejam sob "efeito" muito expressivo de vários tipos de ração, mas o uso desses alimentos altera o fenótipo do animal, de forma a lntensificar características inerentes ao peixe e, por vezes, modificar de fato a aparência do flower, de forma a tornar uma análisa qualitativa e de padrão do peixe um ato falho, que passa a não depender apenas da qualidade genética que o fenótipo do animal demonstraria naturalmente.
E, também no campo relativo à qualidade genética dos animais presentes no hobby, existe, ao meu ver, mais um malefício no uso dessas rações. A existência desse tipo de produto compele criadores, mesmo que inconscientemente, a negligenciar parte da seleção de qualidade que tornou os flowers o fenômeno que eles são hoje. Ao terem a perspectiva de melhorarem os peixes que possuem e produzem, a seleção da qualidade dos peixes passa a ser parcialmente negligenciada. Na minha opinião se os peixes do hobby externassem apenas a sua genética, o melhoramento das cepas seria levado mais a sério, o que seria muito positivo para o hobby.
Existem casos de "uso consciente" desses alimentos, durante apenas o período de grooming entre os estágio de fry e juvenil. A alta taxa metabólica associada ao relativamente curto período de uso, faz desse processo positivo em certas maneiras, pois acelera o desenvolvimento morfológico do animal. De forma que o peixe atinge seu ápice mais rapidamente, o que permite ao criador, ou potencial comprador uma boa avaliação em estágios de idade precosse. Além disso, a suspensão desses alimentos na fase adulta tornará o peixe uma expressão fiel da genética que ele possui.
Nesse tipo de uso, o total de rações intensificadoras (enhancer, enhancing) em uso não deve ultrapassar 1/3 da dieta do flowerhorn. Nesse caso expectativa de vida do animal parece perfeitamente ou muito próxima à normal.
Com isso em mente, vou falar um pouco sobre uma alimentação saudável para flowerhorns em diferentes estágios de desenvolvimento.
Durante os dois primeiros meses de vida, qualquer ração intensificadora deveria ser evitada, devido à fragilidade dos animais. Sendo usadas apenas rações de crecimento e manutenção em proporções de 60/40 por cento a 70/30 por cento respectivamente.
No período inicial do grooming, até 10cm, as rações de crescimento e manutenção devem estar em proporção de 60/40 a 70/30 por cento aproximadamente, caso opte por usar intensificadores uma boa proporção pode estar entre respectivamente 70/10/20 e 70/0/30 por cento.
No segundo estágio do grooming, 10 aos 15cm (juvenil) a proporção de rações de crescimento e manutenção deve estar entre 50/50 por cento 60/40 porcento. No caso do uso de intensificadores uma boa proporção seria entre 60/30/20 e 60/10/30 por cento.
Para peixes adultos a(s) ração(ões) de manutenção, balanceada(s) para ciclídeos onívoros em geral deve(m) consistir em quase 100% da dieta do animal, com um agrado opcional durante uma alimentação por semana, podendo alternar entre um legume ou fruta e alguma carne como peixe ou algum crustáceo, evitando alimentos vivos.
As rações de crescimento devem ser evitadas para adultos, pois com taxas metabólicas desaceleradas, as proteínas e gorduras extras desse tipo de ração praticamente não serão utilizadas pelo peixe depois que ele alcançar seu tamanho adulto, mesmo que o animal continue a crescer até o fim da vida. Esse excesso então ficará estocado no corpo do peixe e, em grandes quantidades, pode causar prejuízo à sua saúde. As rações intensificadoras devem ser mais restritamente evitadas, mas, caso opte por utilizá-las, o total compreendido por elas não deve ser superior a 1/6 da dieta do flowerhorn.
Uma alimentação saudável, sem intensificadores, pode sim tornar um peixe de qualidade em um flowerhorn de excelente padrão e aparência, apenas leva mais tempo se comparada ao uso de rações intensificadoras, mas com uma alimentação saudável o que seu flowerhorn terá de sobra é, justamente, "mais tempo".

Artigo estrito por Neumar Silva membro do grupo Aquaciclideos.